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13/08/2022

CORAÇÃO DE PAI!

Resta-nos aprender de José a paternidade responsável pelo Autor da vida. Padre Ricardo Fontana - reitor.

Foto de capa
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Um homem sem o silêncio é alguém estranho a Deus, exilado em um país distante que se mantém à margem do mistério humano e do mundo.

Talvez num mundo em que a “ditadura do ruído” prevalece, o silêncio do homem de Nazaré, José, se torna uma das mais belas escolas à nossa geração de pais! O romancista polonês, Jan Dobraczynski, no seu livro “José: a sombra do Pai”, tem intuições geniais e, por bendizer, muito concretas da história de José de Nazaré:

José amava o silêncio desde sua tenra infância. O silêncio lhe falava com mais clareza do que as vozes. Exigia sempre o mesmo:  esperar. Ele esperava, ainda que, verdade seja dita, não soubesse o que estava aguardando. Esperava aquilo que o silêncio iria dizer-lhe (DOBRACZYNSKI, 2017, p. 15).

São relatadas muitas virtudes de São José: justo, bom, educador, casto, trabalhador honesto e, poderíamos elencar uma longa lista. Mas há uma virtude teologal que impressiona: Esperança!

Esperava contra toda esperança! Muitas vezes deve ter se deparado em silêncio contemplativo orando com todo seu ser (coração, alma, recursos e entendimento), o Salmo 39, 2.8-9: “Esperando, esperei no Senhor, e inclinando-se, ouviu meu clamor. E então eu vos disse: ‘Eis que venho!’ Sobre mim está escrito no livro: ‘com prazer faço a vossa vontade, guardo em meu coração vossa lei!’”.

A vida é uma contínua luta com o próprio coração. Talvez o maior empreendimento bélico do ser humano seja exatamente este: uma luta dentro de si próprio. Recordemos o dia em que Jacó lutou contra o próprio Deus (Gn 32,28). Em José, “os chamados do silêncio lutavam com os apelos do coração. Mas o silêncio terminava sempre por impor-se” (DOBRACZYNSKI, 2017, p. 15).

O homem sábio sabe falar aos doutores, mas também aos simples e às crianças: “José em sua oficina, sempre cantava a enxó e ressoava o martelo. Ouviam-se também com frequência umas vozes infantis. Ele – o homem silencioso – amava as crianças e tinha prazer em falar com elas. Interessavam-lhes mais os problemas das crianças que os problemas dos adultos” (DOBRACZYNSKI, 2017, p.16).  Assim, o tempo para José fluía imperceptível. Pois o silêncio faz o tempo passar imperceptível.

Conhecemos José porque, descendente de Davi, foi prometido em casamento a uma virgem chamada Maria de Nazaré, mãe de Jesus, Filho de Deus. Então, das promessas, chegamos às realizações: “Eis que uma Virgem conceberá um Filho, ele se chamará Emanuel, que significa, Deus conosco!” (Is 7,14).

No Filho de Deus e em Maria, entendemos, portanto, a grandeza de José! Deus como preparou uma mãe de seu Filho, também precisou de esposo para a mãe e de uma paternidade humana responsável para seu Filho. Com efeito, diz São Bernardino de Sena: “foi escolhido pelo Pai eterno para ser o guarda fiel e providente dos seus maiores tesouros: o Filho de Deus e a Virgem Maria. E cumpriu com a máxima fidelidade sua missão” (São Bernardino de Sena. Sermo 2, de S. Ioseph: Opera 7,27).

Normalmente o imaginário popular tem uma percepção demais idealizadora de São José e de sua paternidade. Alguns o idealizam já pronto, maduro, com uma idade avançada, e tantas elucubrações que distorcem uma aproximação dos Evangelhos. A obediência de José se dá em ouvir na noite escura, em sonhos, o mensageiro de Deus. O fato é este: um homem que esperava os desígnios de Deus para sua vida e de seu povo. segundo Papa Francisco, em sua a carta apostólica Patris Corde (Coração de Pai), nos lembra: “A história da salvação realiza-se ‘contra toda esperança’ (Rm 4,18), através de nossas fraquezas. Muitas vezes pensamos que Deus conta apenas com nossa parte boa e vitoriosa, quando, na verdade, a maior parte dos seus desígnios se cumpre através da nossa fraqueza e apesar dela” (FRANCISCO, 2020, p.11).

A Escola de Nazaré é modelo de espera silenciosa. O silêncio de Jesus, o Cristo Senhor presente em corpo humano, está oculto no silêncio de Deus. O silêncio de Maria e de José, são guardados no coração pelas seguidas novidades do Filho. O silêncio da manjedoura, o silêncio de Nazaré, o silêncio da Cruz, o silêncio do túmulo selado são o mesmo silêncio.

Resta-nos aprender de José a paternidade responsável pelo Autor da vida. Um esposo que se encanta pela sempre Virgem. Um pai que revela o amor misericordioso, ou seja, um verdadeiro CORAÇÃO DE PAI!

 

Padre Ricardo Fontana - reitor.

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